OS KARAS: A DROGA DA OBEDIÊNCIA - Pedro Bandeira: Crítica

ATENÇÃO:
Esta crítica contém spoilers indiretos da trama, apesar de pequenos. Prossiga por sua conta em risco! 

Bom dia a todos, hoje farei uma resenha crítica do livro A Droga da Obediência, primeiro da série Os Karas, da autoria de Pedro Bandeira. Sua edição mais "atual" foi publicada pela editora Moderna, com ilustrações de Hector Gómez, apesar da capa ser de Jefferson Costa.



Este livro faz parte da série Os Karas, escrita pelo autor Pedro Bandeira, autor de outras obras como O Fantástico Mistério de Feiurinha e A Prova de Fogo - estas das quais não gosto. A história deste livro basicamente gira em torno de 5 estudantes, os denominados "Karas", que acabam se intrometendo numa "confusão internacional" com um gênio do mal chamado Dr. Q.I, que pretende subjugar a humanidade à partir de uma droga, que já começou a ser aplicada no local onde se passa a história (um colégio superavançado de São Paulo).

Lembra algo?
Pois é, o próprio autor já mencionou que faz uma menção à situação política brasileira, em específico, no período de ditadura militar, que o autor viveu praticamente 20 anos - dos 22 aos 43. Porém, apesar de ser uma metáfora originalmente ligada à essa época, pode lembrar até o estado em que o país se encontra agora, porque ainda somos oprimidos por todo esse governo ambicioso e egoísta.

Acho uma boa metáfora, mas será que isso salva o enredo?
Vamos ver...


Acho que se, o título do livro e a sinopse não entregasse o que fazia os jovens ficarem obedientes, tudo ia ser melhor. Ah, e mesmo assim, a história de "Dr. Q.I." não me convence, poderia ser algo bem mais simples, porém mais efetivo. Na minha opinião, essa inclusão é mirabolante demais. Considero um downgrade muito grande, porque o livro começa bem, mas logo que depois que a tal "droga da obediência" e seu criador são introduzidos... Bom, sei que isso não é o foco de Pedro Bandeira, mas se ele fizesse um livro de suspense a partir deste inicio, talvez a obra ficaria muito boa. O capítulo 7, assim como os outros capítulos que tem o personagem Chumbinho como principal protagonista, é muito expositivo, e já dá para perceber quem é o fornecedor de drogas, a maior curiosidade do leitor, logo no início. Uma figura que me incomoda é o "Crânio", o "professor-roteiro" do livro. Todo raciocínio por trás do mistério é entregue de cara para o leitor por trás deste personagem, que ainda está envolvido em uma sub-trama romântica desnecessária para tentar fortalecer os personagens. Outro ponto que me deixa desapontado (que trocadilho) é a exploração dos personagens. Não há muito background por trás dos protagonistas, Miguel, Calu, Crânio, Magrí e Chumbinho. São apresentadas poucas características deles, e a personalidade de cada um não é abordada profundamente ao longo das 180 páginas. O único que realmente tem alguma personalidade é Miguel, mas o problema é que não cativa e não tem carisma. O mais perto do que podemos chegar de "personagem carismático" é Chumbinho, que tem mais tempo para nos acostumarmos, já que deve ter uns cinco capítulos exclusivos para esta figura. Mas ainda assim, nesses capítulos, o problema da personalidade inexplorada ataca, porque simplesmente está executando o que deve executar. Os plot twists são previsíveis, assim como no A Prova de Fogo, livro do qual muitos elementos da série Os Karas foram aproveitados, como a temática Teen Power. Por falar em Teen Power, é uma representação boa do povo tentando se libertar, apesar do governo não ter ouvidos, na Droga da Obediência, mas ainda assim não é algo que convence. A postura da polícia também é bastante irrealista, e apesar de aqui no Brasil não ser "lá essas coisas", ainda assim o nível não é tão baixo quanto neste livro. A repetição de palavras é muito abundante, e já perdi a conta de quantas vezes citaram "biólogo Márius Caspérides" só no capítulo 11. Furos de roteiro às vezes acontecem, ou quando argumentos são insuficientes para justificar uma conclusão surgem os clássicos argumentos forjados na hora. Bom, eu poderia ficar citando diversos aspectos negativos aqui, mas vamos para os positivos.

A crítica social por trás do livro é muito boa, apesar da execução falhar, mas ainda assim é legível e pode te entreter ao menos um pouco. O vocabulário usado é bom e flexível, e consegue alternar entre palavras complexas e gírias dos anos 80 muito bem. Trabalho de edição também é bastante caprichado - não é algo que some ao conteúdo, mas me uma edição bem feita é uma das coisas que mais me agrada em um livro. A ambientação é razoavelmente boa, menos nos defeituosos capítulos exclusivos de Chumbinho, que em minha opinião deveriam ser eliminados do resultado final (pera aí, tô falando de ponto negativo até nos "pontos positivos").  

O estilo do autor é muito parecido com seus outros livros, por exemplo, o já citado A Prova de Fogo. Acho um estilo meio genérico, mas para o padrão de literatura nacional mais novo, de 1970 pra cá, está bom. Convenhamos: não teremos uma nova J.K. Rowling por aqui, não é? Enfim, embora não seja muito distinto e especial, ou envolvente, é o suficiente para ser de minha aprovação, o que é meramente significativo, sendo que nem meu estilo é. Em um momento ou outro, pequenos erros ortográficos surgem, como a falta de aspas em citações, mas nada muito abundante, assim como a repetição de palavras, como dito anteriormente. 

Não sei porquê este livro é considerado um "clássico da literatura nacional", porque li inúmeros livros melhores que esse, mesmo nacionais, dos quais considero inferiores ao padrão de livro excelente. Há inúmeros exemplos de livros nacionais melhores que não são considerados clássicos que poderia citar, como O Tolo da Colina e Outros Contos Sombrios, 7 Histórias de Gelar o Sangue, O Desertor da Civilização, Angus: O Primeiro Guerreiro, Masters: Paul McCartney, e muitos outros.

Conclusão: é um livro bastante superestimado, e se tiver isso, ou Goosebumps na mão, vá ler algum Goosebumps que é um entretenimento mais dinâmico, mais divertido, assustador, mas simples. Porém, se tiver A Droga da Obediência e Os Colegas na mão, opte pelo primeiro, porque ainda assim é mediano nos padrões técnicos e consegue ser um pouco divertido. Eu aparentemente detonei o livro porque tenho uma maturidade literária bem maior que a de um leitor infanto juvenil, a quem a obra é direcionada, mas quem tem essa faixa etária, talvez ache um bom material, como aconteceu com alguns dos meus colegas de classe.

Espero que tenha gostado da crítica. Não foquei no resumo porque isso é coisa de preguiçoso, francamente. Essa resenha não teve muitos spoilers, então se leu até aqui mesmo não tendo lido o livro, tire sua conclusão, se realmente vale a pena ler isso.
Até a próxima!

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